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Dragagem do Canal do Itajuru: pesquisador alerta sobre balneabilidade da Praia do Forte

Adacto Ottoni alerta sobre possibilidade de escoamento de esgoto para o mar e risco à população

11 DEZ 2023 • POR Redação • 18h55

Professor associado do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Adacto Ottoni alertou sobre um possível efeito colateral da dragagem do Canal do Itajuru: a possibilidade de contaminação das águas da Praia do Forte pelo esgoto que ainda hoje é despejado em um dos maiores corpos hídricos hipersalinos do mundo. O pesquisador contou à Folha que a dragagem melhorará a qualidade da água da Laguna de Araruama, pois a água entrará “mais leve com mais oxigênio”. Em contrapartida, ele alerta que “em dias de maré baixa, quando o nível da água do mar está abaixo do nível da lagoa e o nível da lagoa está abaixo dos níveis dos rios e galerias de drenagem, o esgoto vai vazar em direção ao mar”.

– E isso pode acontecer porque essa dragagem vai aumentar o aporte de água do mar na lagoa, mas também o aporte da saída de água da lagoa para o mar. Isso significa que, se você tem água poluída na lagoa, isso vai afetar a balneabilidade da Praia do Forte – afirmou.

Especialista em recursos hídricos e sustentabilidade ambiental, o professor esteve em Cabo Frio esta semana e chegou a acompanhar o ambientalista Lucas Muller em alguns pontos da cidade. Um deles foi o canto da Praia do Forte.

– Essa visita foi no finalzinho da maré média para entrar na maré baixa. Vimos ali uma areia preta, muitos musgos nas pedras que indicam matéria orgânica, ou seja, vários indícios de contaminação por esgoto. Mas, para se constatar esses fatos, seria necessário um monitoramento da qualidade da água na lagoa, no Canal do Itajuru e na Praia do Forte, pegando situações de maré baixa, que é a mais crítica na questão sanitária. Se ficar constatado aumento da poluição na praia, é sinal de que a dragagem está prejudicando a balneabilidade da Praia do Forte.

Em recente nota enviada à Folha, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) informa que “todos os possíveis impactos foram avaliados e têm sido acompanhados pelos órgãos ambientais competentes, não havendo nenhuma ocorrência de dano à fauna durante as obras de dragagem”. No site do órgão, o histórico dos boletins de balneabilidade das praias de Cabo Frio somente deste ano de 2023 (até novembro) revela que desde janeiro a Praia do Siqueira está imprópria para banho. O canto direito da Praia do Forte (onde o professor esteve esta semana) esteve impróprio em janeiro, fevereiro, maio, junho e julho. O trecho do Canal do Itajuru, no bairro da Passagem, esteve impróprio em janeiro e se manteve assim de maio a novembro. No bairro Palmeiras, o trecho ao lado do quiosque azul esteve impróprio em fevereiro e março, tornou a ficar impróprio entre maio e agosto e depois em outubro e novembro. Adacto Ottoni, no entanto, questiona esses resultados.

– Quando o Inea diz que não existe problema nenhum, tem que comprovar que as amostras que ele coletou foram em situação de maré baixa, porque se for na maré média ou alta, a água do mar está entrando no canal e diluindo o esgoto. Então você tem uma situação que não é a real de poluição – alertou.

Ainda segundo ele, a piora da balneabilidade aumenta o risco de transmissão de doenças aos banhistas na Praia do Forte.
– Enquanto não houver um monitoramento preciso, e na situação de maré baixa, antes, durante e depois da dragagem, não se pode dizer que essa dragagem não está gerando impactos negativos – relatou o professor.

Adacto também esteve no trecho do bairro Baixo Grande, em São Pedro da Aldeia, que recebeu recente engorda feita com a areia dragada do Canal do Itajuru. No local, o professor também alertou sobre possível contaminação da areia.

– Então esse é um outro aspecto que também me deixou muito preocupado. Uma areia contaminada com material fecal pode colocar em risco a saúde da população que vai usar essas praias de engorda. E isso também tem que ser muito bem monitorado.

Em recente nota à Folha sobre a possibilidade de contaminação dessa areia, o Inea disse que “foram feitas análises ambientais técnicas para seguir com as intervenções, sendo elas batimetria, granulometria e ecotoxicidade da areia”, destacando ainda “que as engordas e o nivelamento das faixas de areia têm total respaldo técnico e científico na literatura ambiental nacional”.