Cultura

Cabo Frio mantém silêncio sobre reabertura do Teatro Municipal

Prédio segue fechado desde 2017, com funcionamento apenas para ensaios e estudos

27 JUL 2022 • POR Cristiane Zotich • 12h39

O artigo 215 da Consti­tuição diz que “o Es­tado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valori­zação e a difusão das manifes­tações culturais”. Em Cabo Frio, no entanto, artistas, moradores e visitantes estão encontrando dificuldade em ver esse direito constitucional ser respeitado, principalmente no que se refere aos espetáculos teatrais. Inaugu­rado em 14 de agosto de 1997, e fechado desde janeiro de 2017, o futuro do Teatro Municipal Inah de Azevedo Mureb, em Cabo Frio, segue cercado de dúvidas e mistérios. Entre os muitos pro­blemas que impediam a reaber­tura do espaço estavam falta de energia elétrica (aparentemente já resolvida) e problemas estru­turais que precisam de solução para liberação de documentação pelo Corpo de Bombeiros.

As poucas informações sobre o assunto vêm de artistas locais, como José Facury, um dos fun­dadores do grupo Creche na Co­xia e membro do Conselho Esta­dual de Cultura. Segundo ele, há poucos dias foi convocada uma reunião com participação dos conselheiros de artes cênicas, membros da Câmara de Teatro, e representantes da Secretaria Municipal de Cultural sob o co­mando do secretário Clarêncio Rodrigues, além do secretário adjunto de Planejamento, Sér­gio Nogueira.

– Participei dessa reunião como conselheiro estadual. Nela falaram dos procedimentos em curso, como a licitação para apresentação do projeto para o acabamento da obra, incluindo as instalações cênicas. O que, ao ver deles, está previsto para março de 2023, o que nos dei­xou frustrados quanto ao prazo, mas esperançosos se ele abrir com a sua completude técnica. A Câmara de Teatro vai acom­panhar o andamento do assunto – contou o ator e diretor teatral. 

A Folha pediu nota à Prefei­tura sobre o assunto, mas não teve resposta até o fechamento desta edição. Aliás, desde outu­bro de 2021 o jornal vem tentan­do, sem sucesso, buscar novas informações sobre a reabertura do espaço. Na época, uma luz de esperança tomou conta dos ar­tistas da cidade, com o anúncio de que a Prefeitura de Cabo Frio e a Enel fizeram um acordo para o governo municipal quitar, em 36 parcelas, uma dívida de R$ 25.637.166,16 relativas ao forne­cimento de energia elétrica em vários prédios públicos, durante os períodos de março de 2003 até dezembro de 2020. Além do Teatro, que teve a luz religa­da poucos dias após o acordo, também deveriam ter a energia elétrica restabelecida o Ginásio Alfredo Barreto, no Itajuru; o Ginásio Vivaldo Barreto, no Jardim Esperança, e o Estádio Correão, em São Cristóvão.

Antes disso, em fevereiro de 2021, o prédio do Teatro Muni­cipal de Cabo Frio foi visitado pelo arquiteto Marcos Flaks­man, autor do projeto original do espaço. A visita, que foi acompanhada pelo prefeito José Bonifácio, teve o objetivo de avaliar todo o prédio, verifican­do inicialmente as revitalizações que serão necessárias para a re­tomada do funcionamento. Na visita, o prefeito chegou a anun­ciar que em breve teria, detalha­damente, tudo o que precisa ser feito para que se possa reabrir a o teatro “com a grandeza que ele merece e com a valorização dos nossos artistas locais”. 

Em julho do mesmo ano sur­giu mais uma pontinha de es­perança, quando a secretária de Estado de Cultura e Economia Criativa, Danielle Barros, este­ve em Cabo Frio e se encontrou com o secretário de Cultura de Cabo Frio, Clarêncio Rodrigues. Entre algumas possibilidades, estava o apoio na revitalização do Teatro Municipal, inclusive com aquisição de equipamentos técnicos como iluminação, por exemplo, via leis de incentivo. 

Em março deste ano a Pre­feitura divulgou que o prédio estava em processo final de reforma. No entanto, o teatro segue fechado e sem data para reabertura oficial e retorno de espetáculos e festivais culturais. O funcionamento é apenas par­cial, com liberação apenas das salas de ensaio e de estudo, com agendamento e número limita­do de pessoas, para a realização de pequenas oficinas, ensaios e reuniões. Já a área da plateia e o palco seguem fechados.

Cidades vizinhas reabrem casas de espetáculo

Na contramão de Cabo Frio, o teatro Dr. Átila Cos­ta, em São Pedro da Aldeia, passou por reforma em 2020. Ficou fechado durante o pe­ríodo de pico da pandemia de covid-19, mas já voltou a funcionar novamente. Na parte externa, a área de es­tacionamento recebeu cer­ca de 140 metros de rede de drenagem e assentamento de meios-fios. O espaço ganhou ainda calçamento, serviços de paisagismo e demarcação de vagas para os veículos. A obra foi fruto de um contrato de repasse celebrado entre a Prefeitura aldeense e o Minis­tério do Turismo. Desde que foi reaberto, o espaço vem movimentando a cultura do município vizinho através das atividades da Escola de Artes Municipal. Em fevereiro des­te ano foram oferecidas 480 vagas distribuídas em oficinas gratuitas de dança, música, teatro, artesanato e desenho, com aulas presenciais, do in­fantil ao adulto.

Outro teatro que foi fe­chado para reformas, mas já voltou a funcionar, é o Teatro de Bolso Procópio Ferreira, em Campos dos Goytacazes. Ele estava fechado desde de­zembro de 2021 para uma reforma no telhado e, pos­teriormente, para instalação de novas calhas, reposição de telhas e mantas, impermeabi­lização da laje; instalação de aparelhos de ar-condicionado nos camarins e no mezanino do foyer; reparos e colocação de nova vestimenta (tecidos do palco) na caixa cênica; e pintura em andamento nas áreas interna e externa. A cerimônia de reabertura do espaço aconteceu no dia 26 de junho e contou com apre­sentações de música, dança e leitura dramatizada. O local ganhou novos equipamentos através da Secretaria de Es­tado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro