CADÊ?

Retirada de peça de zeppelin em museu causa indignação em Arraial

Pesquisador que escreveu sobre queda de dirigível no Cabo na Segunda Guerra cobra explicação da Marinha

1 MAI 2022 • POR Rodrigo Branco • 09h46
Peça foi doada por homem que a recolheu do lixo - Reprodução

Reinaugurado com pompa no começo de abril, o Museu Oceanográfico da Marinha, que fica na Praia dos Anjos, em Arraial do Cabo, ganhou nova configuração, mas não agradou a todo mundo. O pesquisador Leandro Miranda, que lançou o livro 'K-36 O Zeppelin que caiu no Cabo', pela Sophia Editora, em 2020, reclamou a ausência de uma peça do dirigível norte-americano que se acidentou no antigo distrito de Cabo Frio, em janeiro de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial.

Segundo Miranda, a peça foi doada ao acervo do museu por um homem que a resgatou do lixo, depois que vizinhos a jogaram fora. O espaço cultural estava fechado desde junho de 2020 e passou por uma reforma estrutural, mas foi reaberto sem o item. Indignado, o pesquisador criou um abaixo-assinado virtual que, até o fechamento desta matéria, tinha em torno de 70 assinaturas.

A peça que estava lá em exposição foi o Paulo Cordeiro que doou para Marinha e, na época que eu lancei o livro, conseguimos identificar o local da peça no dirigível, junto com o desenho do fabricante. Quando lançamos o livro, a peça estava em exposição e foi feito um banner explicativo em cima da nossa pesquisa. E agora, para nossa surpresa, retiraram a peça de exposição. A museóloga disse que ela não cabe mais do contexto do museu, porque ele é oceanográfico e não histórico relata.

A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Arraial do Cabo, que não se manifestou até o fechamento desta edição, mas segundo a Folha apurou, a Subsecretaria Municipal de Cultura enviou um ofício para a Marinha no último dia 20 para pedir a devolução da peça do dirigível K-36, porém, não obtiveram resposta.

Por sua vez, a Marinha confirmou para a reportagem o que o Museu Oceanográfico exibe, atualmente, um novo projeto de exposição, diferente do anterior.

Segundo nota enviada ao jornal, a força militar afirma que a exposição do Museu é de longa duração e, portanto, ocorre, sazonalmente, a substituição do acervo exposto, garantindo assim, inclusive, a conservação dos objetos museológicos. 

O texto prossegue dizendo que a exposição atual priorizou o acervo científico, "ainda que o Museu Oceanográfico reconheça sua responsabilidade com a sociedade de Arraial do Cabo razão pela qual a exposição mantém um eixo temático de viés histórico, onde são abordados, por exemplo, naufrágios importantes ocorridos na região, expondo objetos que não eram expostos. 

Por fim, a Marinha informou que o material que não está exposto atualmente permanece acondicionado e devidamente preservado na Reserva Técnica, podendo ser utilizado, inclusive, em uma próxima exposição itinerante em planejamento que abordará tema específico, como o próprio Zeppelin ou a Ilha do Cabo Frio. 

Leandro Miranda disse que pretende pedir a devolução da peça para exposição em palestras, caso ela não seja utilizada no Museu Oceanográfico.

Nessa Reserva Técnica, tem umas peças que eles não botam em exposição nunca e ficam jogadas e, com o tempo, ninguém conhece a nossa história. Estão tentando esconder a nossa história. Acho que é um desrespeito com a gente protesta. 

Como foi  No livro lançado pela Sophia Editora, Leandro Miranda relata detalhes do acidente ocorrido na madrugada de 17 de janeiro de 1944, quando o dirigível K-36, vindo dos Estados Unidos, se chocou com o morro da Ilha do Farol. Apesar da gravidade do acidente, apenas dois dos dez tripulantes ficaram feridos.

Com poucas informações das autoridades norte-americanas, Miranda teve que levantar documentos e informações ao longo de mais de dois anos de pesquisas para escrever o livro.