VIOLÊNCIA NOS ESTÁDIOS

Criança atingida por sinalizador em jogo do Flamengo, no Chile, é filho de jornalista cabo-friense

Impedida de entrar no estádio de guarda-chuva, Daniele Carvalho questionou como torcedores entraram com pedras, telhas, garrafas e sinalizadores

29 ABR 2022 • POR Cristiane Zotich • 17h49
Danielle mora no Chile há dez anos, idade do seu filho Thiago - Arquivo Pessoal

Apaixonada por futebol, a jornalista Danielle Carvalho nunca imaginou que assistir uma partida de futebol do seu time de coração (o Flamengo) se transformaria num enorme trauma. É que o filho dela, Thiago Sepúlveda, de apenas 10 anos, foi ferido no rosto por um artefato arremessado por um torcedor do Universidad Católica, que nesta quinta-feira (20), no estádio San Juan de Apoquindo, em partida válida pela Libertadores. 

Danielle é cabo-friense, mas mora no Chile há pouco mais de 10 anos. Enquanto ainda morava no Brasil, atuou como jornalista na equipe da Folha dos Lagos, cobrindo, justamente, matérias esportivas, ligadas principalmente ao futebol. Emocionada, ela contou que vem sendo duramente criticada por ter levado o filho ao estádio.

- Esta nem foi a primeira vez que levei o Thiago pra ver um jogo do Flamengo, eu já havia levado em 2017, e foi tudo tranquilo. Mas agora estamos muito traumatizados, ainda processando tudo o que aconteceu. O Thiago entrou no estádio super feliz, porque ia ver Maurício Isla, que é chileno, mas joga no Flamengo. A gente não podia imaginar que um momento bonito, familiar, porque futebol é isso, um programa familiar, terminaria desta forma. Pra gente, que mora em outro país, quando vê seu time de coração jogar, você não pensa que vai ter violência. E tem muita gente me criticando porque levei meu filho ao estádio. Se for pensar assim, vou privar meu filho de ir no shopping, por lá também tem violência; vou privar meu filho de passear na rua, porque na rua tem violência. Eu não me sinto culpada pelo o que aconteceu, mas me sinto impotente e com raiva - desabafou Danielle.

A jornalista contou que quando notou a confusão, olhou imediatamente para direção da torcida do Universidad, e tentou se colocar numa posição de proteger o filho, que não quer mais saber de ir ao estádio.

- O que eu vou dizer? Eu quero tentar mudar isso na cabecinha dele. Falei que isso foi uma situação que ele não deveria passar, mas ele não quer mais. E foi tudo tão rápido. O Thiago estava do meu lado, cantando. Mas, desde que o Flamengo abriu o marcador, os ânimos ficaram exaltados por parte da torcida da Católica. E tinha um torcedor de jaqueta azul que começou tudo. E foi dali que partiu o que eles chamam de bengala, aqui, e que atingiu o olho do Thiago. Quando percebi a confusão, parei de olhar o jogo e a prestar atenção na torcida da Catolica, que é de onde vinham as coisas que estavam sendo arremessadas. Me coloquei de lado numa posição de proteção, mas quando olhei pro meu filho ele já estava caído no chão, com sangue no rosto, e chorando muito, desesperado.

Danielle lembra que vários torcedores do Flamengo manifestaram apoio na tentativa de retirar o filho dela do local, levando-o para uma ambulância do estádio, mas foram impedidos pelos seguranças do Universidad Catolica.

- Não sei se eles não estavam percebendo o que estava acontecendo, mas não nos deixaram passar. Tivemos que dar uma volta enorme no estádio até chegar na ambulância. E o Thiago chorando, de olho fechado. Eu cheguei a pensar que meu filho estava cego.

A empatia que faltou do Universidad, Danielle contou que encontrou não apenas na torcida flamenguista, mas também na equipe da Conmebol. Mas questionou a falta de segurança no estádio ao lembrar que foi proibida de entrar com um guarda-chuva de bolsa, enquanto torcedores do Catolica estavam com pedras, garrafas e sinalizadores.

- Dois dias antes do jogo choveu muito aqui no Chile. Então, como mãe protetora, levei um guarda-chuva pequeno, de bolsa. Os seguranças do estádio não me deixaram entrar com o guarda-chuva alegando que ele poderia ser usado como algo para violência, e que o estádio era muito seguro. Então, como os torcedores da Catolica entraram com pedras, telhas, garrafas e sinalizadores? Eles não encontraram nada disso lá dentro. Eles entraram com esses objetos, já foram a intenção.

O médico que atendeu Thiago no estádio constatou sinais de queimadura no rosto da criança, e revelou que a situação poderia ter sido pior: mais alguns centímetros, e o sinalizador atingiria o olho do menino. A jornalista registrou o caso na delegacia. Em nota, o Universidad Católica disse que “precisamos identificar os responsáveis por esses eventos. Não podemos tolerar esse comportamento miserável em nosso estádio. Precisamos da sua ajuda anonimamente para identificar esses assuntos. Escreva-nos confidencialmente para lineadirecta@cruzados.cl e vamos acabar com isso!”