"AQUI NÃO!"

Rio Una está no centro de polêmica ambiental em Búzios

Com resistência a projeto de transposição de efluentes, Consórcio Lagos São João estuda alternativas para interromper despejo na Lagoa de Araruama

27 JUN 2021 • POR Rodrigo Branco • 13h30
Grupo de ambientalistas e ativistas locais se mobiliza para impedir transposição. - Reprodução

O Rio Una, que deságua em Armação dos Búzios, está no centro de uma polêmica em meio às discussões de propostas para interromper o despejo de efluentes [esgoto tratado] na Lagoa de Araruama. Ambientalistas e integrantes da sociedade civil, com o reforço da Prefeitura e da Câmara Municipal buziana, resistem à ideia de transposição dos efluentes da região para a bacia fluvial que chega ao mar no balneário.

Um grupo composto por moradores, comerciantes, hoteleiros e representantes de outros segmentos se articula para rechaçar uma possível intervenção nesse sentido, sob a alegação de que o lançamento dos efluentes pode causar dano ambiental nos ecossistemas locais, como o Mangue de Pedra e a Praia da Rasa, prejudicando populações de pescadores e quilombolas e também a atividade turística.

Um grupo foi formado para fazer ações de mobilização para chamar a atenção da sociedade civil. Integrante do grupo, a conselheira do Meio Ambiente de Búzios Denise Morand disse que foram reunidos trabalhos científicos que mostram os possíveis danos da transposição e pareceres jurídicos sobre o assunto, que vai parar no Ministério Público Federal. No começo do mês foi feito uma espécie de ‘abraço simbólico’ ao local.

– Precisamos de soluções modernas e sustentáveis. O reuso dos efluentes é uma possibilidade, mas a Prolagos tem que melhorar a qualidade do efluente que sai atualmente das suas estações de tratamento. Água doce é ouro. Precisamos revitalizar e proteger a bacia hidrográfica do Rio Una – afirma Morand, que reclama da falta de audiências públicas para tratar da questão.

A secretária executiva do Consórcio Intermunicipal Lagos São João, Adriana Saad, negou que o projeto de transposição para o Rio Una esteja relacionado aos efluentes de todos os municípios da região. Segundo Saad, estudos realizados projetam que o esgoto tratado nas estações terciárias de Iguaba Grande e em São Pedro da Aldeia deverão ser usados na irrigação de áreas rurais e despejados nos rios Papicu e Flexeira, a mais de 50Km da foz do Rio Una.

Com relação a Cabo Frio, a secretária-executiva avisa que sequer há discussão para transpor o esgoto tratado, uma vez que a estação de tratamento do Jardim Esperança é primária. Atualmente, o esgoto da cidade é tratado em seus coliformes e germes e lançado na Praia do Siqueira e no Canal da Malhada. Segundo Saad, foram liberados recursos para a realização de estudos para a melhor solução técnica e ambiental.

–  O mais importante é que não existe dois lados. A posição do Comitê de Bacia e do Consórcio jamais é antagônica à questão de Búzios ou de Cabo Frio. A gente preza pelos ambientes. Se tiver risco em algum ambiente, a senta pra discutir, pra buscar soluções. Não existe por parte do Comitê e muito menos do Consórcio essa divisão.

Presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica Lagos São João, o biólogo Eduardo Pimenta, fez coro com a colega. Pimenta disse que a transposição para o Rio Una é somente uma das alternativas para cessar o lançamento de esgoto na Lagoa de Araruama.

Segundo ele, entre as propostas está a construção de um emissário submarino para o lançamento dos efluentes em mar aberto e também de envio para grandes reservatórios, com o objetivo de uso para irrigação em propriedades rurais. Independentemente da solução, o estudioso defende uma medida conjunta de todos os municípios.

–  O Comitê, o Consórcio, o colegiado da plenária, o poder público, usuários e ONGs têm o mesmo objetivo. Não há confronto de interesses. É preciso salvaguardar todos os sistemas naturais, seja o Mangue de Pedra, o Rio Una, a Lagoa; seja o Rio São João, a Lagoa de Saquarema. O fato é que todos esses ecossistemas estão saturados desse esgoto. Tanto a plenária, o Comitê e a sociedade precisam tratar desse tema com bastante importância, no sentido de que cada município, como gerador de efluentes, quer jogar. Aí a gente não pode pensar a nível individual, precisa pensar a região como um todo e não cada um ficar olhando só a sua fatia de território físico municipal. Esse é o grande desafio – conclui Pimenta.

Procuradas pela reportagem, as concessionárias também se posicionaram. Em nota, a Prolagos disse que não há nenhuma obra de transposição em andamento. A empresa informou que a transposição dos efluentes tratados para o Rio Una é uma das alternativas que estão sendo avaliadas pelo Consórcio e Comitê de Bacias Lagos São João.

A Prolagos disse ainda que, antes de ser implantada, a solução técnica definida pelo consórcio passará por processo de licenciamento ambiental. A concessionária concluiu dizendo que só irá implantar uma solução tecnicamente segura e adequada para o meio ambiente.

Já a Águas de Juturnaíba informa que não participa do projeto em questão, visto que o rio Una não faz parte de sua área de concessão.