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No tempo dos sambaquis: vida e espaço dos primeiros habitantes da Região dos Lagos

Livro 'Cabo Frio Revisitado', da Sophia Editora, fala sobre os sítios fundamentais para a Arqueologia do Brasil

23 JAN 2021 • POR Julian Viana • 14h30
Escavação em um sambaqui no Canal do Itajuru, em Cabo Frio

Conhecidos popularmente como sambaquis, os sítios arqueológicos são considerados pelos arqueólogos com um testemunho material deixado pelos primeiros pescadores e coletores que habitaram a Costa do Litoral Sul e Sudeste do Brasil. 

Em um dos capítulos do recém-lançado livro “Cabo Frio Revisitado – a memória regional pelas trilhas do contemporâneo” (vários autores, org. Ivo Barreto, 432 págs.), à venda no site da Sophia Editora, as arqueólogas MaDu Gaspar e Gina Bianchini apresentaram um breve panorama sobre as pesquisas dos sambaquis, que na Região dos Lagos estão presentes, por exemplo, na Praia do Forte, em Cabo Frio, e na Praia de Geribá, em Búzios. 

– Os sambaquis são compostos de restos alimentares, conchas e ossos de peixe. A característica mais importante e fundamental é que esses sítios têm um número grande de esqueletos humanos. Eles eram o local do ritual funerário desses pescadores coletores – conta MaDu Gaspar. 

A arqueóloga ainda acrescenta que a Região dos Lagos é rica e extremamente relevante para a arqueologia do Brasil. 
– A Região dos Lagos é extremamente importante porque carrega toda uma tradição. É uma local especial de pesquisa onde alguns sambaquis ainda estão intactos. Essa região é extremamente relevante para a arqueologia do Brasil. 

Gina Bianchini acrescenta que o capítulo apresenta um breve panorama sobre a pesquisa dos chamados sítios arqueológicos, que são testemunhos dos primeiros grupos humanos que chegaram ao litoral. 

– O livro começa contando um pouco sobre o início da arqueologia no Brasil e depois discorre sobre o que os pesquisadores vêm descobrindo a respeito desses sítios e do modo de vida das pessoas que os construíram. 

Gina também fala sobre a importância de o tema ser discutido nos dias de hoje. 

– O tema precisa ser discutido porque estes sítios ocorrem com frequência ao longo de todo o litoral brasileiro. Eles são parte da história do nosso país, considerando que essas pessoas chegaram muito antes do colonizador europeu – enfatiza. 

MaDu complementa a fala da Gina ao dizer que os sambaquis remetem à nossa origem, ao nosso passado.

 – Eles são os primeiros colonizadores da Região Litorânea e estabeleceram um modo de vida voltado para a exploração aquática, que até os dias de hoje é seguido pelas populações que moram no litoral, os pescadores tradicionais. O nosso presente só faz sentido se olharmos toda a longa trajetória que nos trouxe até aqui. Trajetória essa que dá sentido à nossa vida atual, nossas raízes, conhecimentos e todas as lembranças que esses grupos construíram.

 As autoras contam que a linguagem escolhida para a construção do capítulo foi a mais acessível. Elas procuraram termos de fácil entendimento para a decodificação do tema. 

Gina ainda afirma que os sambaquis podem ser considerados verdadeiros atores no período que a Geologia recentemente definiu de Antropoceno.

 – Os construtores de sambaquis chegaram no litoral e ocuparam esta região por centenas de anos. Acompanharam, em certo sentido, as variações do nível do mar e com isso, os processos de formação da região costeira, como o fechamento e formação das lagunas, como a de Saquarema, por exemplo. É bem provável, considerando que foram grupos bastante densos, que eles tenham sido agentes de produção desta paisagem, não somente através da construção dos sítios, que se elevam e se destacam na paisagem, mas também pela manipulação de plantas, levando e trazendo semente de frutos e raízes que consumiam – conclui.