A BOLA ESTÁ COM ELA!

Jovem goleira cabo-friense agarra chance de jogar pelo Fluminense

Quilombola de Botafogo, no Segundo Distrito, Tainá Rodrigues treina desde o começo do ano no clube das Laranjeiras

18 JAN 2021 • POR Rodrigo Branco • 15h42
Tainá se inspira nas colegas de posição Lelê e Bárbara e no alemão Manuel Neuer - Pedro Chaves (Divulgação)

Se as boas oportunidades precisam ser agarradas com firmeza, nenhuma metáfora é mais adequada do que a do goleiro de futebol. E desta forma, na bola e na vida, a jovem Tainá Rodrigues, de 20 anos, começa a conquistar o seu espaço no esporte. Desde o começo do ano, a moradora da comunidade quilombola de Botafogo, no segundo distrito de Cabo Frio, passou a integrar o elenco profissional do Fluminense.

A agilidade e a segurança da arqueira chamaram a atenção dos olheiros tricolores nas competições nacionais e regionais que disputou nos últimos anos. Cria das peladas que disputava no bairro onde nasceu, junto com primos e amigos, Tainá se destacou na equipe feminina de Cabo Frio, do treinador Djalma Leite. 

O bom desempenho a levou a ser contratada pela equipe de Vitória de Santo Antão (PE), onde disputou o Campeonato Brasileiro e foi campeã pernambucana, em 2019. No ano passado, a goleira se transferiu para o Maranhão, onde fechou o gol nas partidas pelo Juventude Timonense.

Enquanto resolve as questões referentes ao alojamento, Tainá está hospedada na casa de uma tia, no Rio, para poder treinar todos os dias em Xerém, onde fica o CT da equipe feminina do Fluminense. Aliás, incentivo é o que não faltou para a jovem goleira, desde que começou a fazer as primeiras defesas, em 2015. 

– Minhas amigas, minha família, minha mãe principalmente, e o Wagner [Araújo], que foi meu treinador, me deram muita força e falaram que era para abraçar essa oportunidade e eu abracei. Sou grata a Deus. Ficaram muito felizes e me deram muito apoio quando eu saí de casa – comentou Tainá, para a Folha.

A timidez e a humildade da goleira cabo-friense não significam falta de ambição. Pelo contrário, Tainá quer se firmar pelo Tricolor das Laranjeiras nas competições oficiais que serão disputadas este ano para, talvez um dia, chegar à Seleção Brasileira da goleira Bárbara, apontada como referência na posição, assim como Lelê, do Corinthians, e de Manuel Neuer, do Bayern Munique e da Seleção Alemã.

Tainá (segunda à dir.) treina com novas colegas desde o começo do mês (Divulgação FFC)

Do arqueiro europeu campeão mundial de 2014, aliás, a jovem se inspira na habilidade em jogar com os pés, cada vez mais exigida no futebol moderno, e que vem sendo treinada com afinco nos primeiros dias no novo clube. 

A dedicação à carreira cobra o preço da saudade, afinal, Tainá não tem mais tempo para se dedicar aos encontros e eventos do quilombo de Botafogo. A goleira fala com muito orgulho de suas raízes e ancestralidade. Afinal, a mãe, primos, avós e bisavós são quilombolas.

De fala mansa, Tainá é firme quanto aos objetivos que pretende conquistar na carreira. Ela sabe que pode servir como espelho para dezenas de meninas que sonham viver de jogar bola profissionalmente, mas que esbarram em todo tipo de dificuldades, a começar pelo preconceito.

– Para as meninas que estão começando o que eu tenho a dizer que não desistam dos seus sonhos como eu não desisti. Batalhei bastante, sempre corri atrás. Mesmo sem dinheiro pra ir treinar, eu dava um jeito de ir. Sempre tenham fé e deixem o machismo da sociedade de lado. É só olhar o seu objetivo – ensina.

E assim segue Tainá, agarrando firme os seus sonhos, como uma das inúmeras bolas chutadas à queima-roupa pelas adversárias.