"ACALANTO PARA O CORAÇÃO"

Músico cabofriense participa de projeto que leva música a vizinhos durante a quarentena

Vídeo mostra saxofonista flautista Rodrigo Revelles tocando clássico de Jacob do Bandolim em seu apartamento, no Rio

4 ABR 2020 • POR Rodrigo Branco • 18h11
Rodrigo Revelles aprovou convite para tocar: "Música ajuda a dar um conforto" - Reprodução

Notas e harmonias enfileiradas quebram a monotonia da quarentena em Copacabana, bairro carioca conhecido como Princesinha do Mar e considerado o berço da bossa nova. A execução precisa do choro ‘Receita de Samba’, de Jacob do Bandolim tem um toque cabofriense, na interpretação do músico Rodrigo Revelles.

A breve apresentação nesta sexta-feira (3), que teve como público os vizinhos de prédio, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, fez parte de uma iniciativa chamada ‘Choro na Janela’, idealizada pelo trompetista Silvério Pontes, a partir do projeto mensal ‘Choro na Rua’, momentaneamente paralisado em função das medidas de isolamento social impostas pela epidemia de novo coronavírus. Todos os dias, durante o período de quarentena, Pontes chama músicos convidados para uma participação gravada.

Um vídeo com a apresentação de Revelles para a vizinhança circula pelas redes sociais neste sábado (4), com centenas de curtidas, comentários e compartilhamentos. O músico falou para a Folha sobre o que o gesto significa em um momento de reclusão forçada da população.

– A arte nesse momento é um acalanto para o coração. É como se fosse uma forma da pessoa se emocionar, sair desse marasmo de tanto coisa negativa que a gente vê passando na TV o tempo inteiro. Acho que boa parte da Humanidade nunca havia presenciado uma situação dessas, de uma coisinha mexer com o mundo inteiro. A música vem para dar esse conforto para trazer um pouco de alegria para o coração das pessoas – analisa.

A inusitada plateia que assistiu ao ‘pocket show’ de janelas e sacadas concordou com a avaliação do saxofonista flautista. O alívio momentâneo ajudou a aquecer a alma e a aproximar o que a doença forçosamente afastou. Revelles, que mora há 12 anos na capital, para onde foi para estudar, diz que tem aproveitado a pausa na carreira para evoluir profissionalmente.

Uma parte do dia é dedicada para caminhar no calçadão da praia [a orla está liberada], com as devidas precauções, enquanto boa parte do tempo tem sido usada para praticar e aprender, exercício de disciplina e humildade para um profissional que toca com nomes como Pepeu Gomes, Dudu Nobre e Alcione.

– Tenho estudado bastante. Há muito tempo não dava esse upgrade de estudo na minha profissão. Estou revendo e organizando muitas coisas. Colocando a casa em ordem, fazendo as coisas que eu queria fazer, mas que nunca tinha tempo. Os trabalhos vinham pintando e acabava estudando pouco – observa.