Paixão de Cristo é novamente cancelada em Cabo Frio
Cenários do espetáculo estavam com avarias após ficarem dois anos guardados na Morada do Samba
ALEXANDRE FILHO
Já virou tradição em Cabo Frio, mas não há motivos para se comemorar. Pelo segundo ano consecutivo – a terceira vez em quatro anos – a tradicional encenação da Paixão de Cristo, que acontece sempre no período da Páscoa, não será realizada. Porém, diferentemente do que foi dito pela prefeitura em 2018, quando o alto custo do evento foi dado como justificativa para o cancelamento, desta vez avarias nos cenários utilizados na peça e o pouco tempo hábil para o conserto dos mesmos forçou a Igreja mais uma vez a não realizar o evento. A prefeitura coloca a culpa pelas condições dos cenários na gestão anterior, a última a realizar o espetáculo.
– No ano passado a explicação que foi dada foi financeira, mas esse ano nós começamos a procurar a prefeitura em janeiro. Enviamos as solicitações e eles descobriram que os cenários da peça estavam totalmente destruídos, guardados em um galpão. Então não havia mais tempo hábil para se mandar recuperar os cenários. É uma pena – disse o Padre Marcelo Chelles, pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Assunção.
Segundo o Padre Marcelo, no caso da realização da Paixão de Cristo, o envio da solicitação é necessário pois cabe à prefeitura o fornecimento da parte estrutural, como palco, iluminação, torres de som e cenários. A Igreja fica responsável pelo elenco da peça, vestuário e as gravações utilizadas na encenação. Apesar de ter feito a so- licitação para o governo no mês de janeiro – o processo foi protocolado no dia 31 – , o pároco afirma que só recebeu a resposta, citando o estado dos cenários, que estavam quebrados e deteriorados, faltando menos de um mês para a realização do evento, no dia 14 de março. Ainda de acordo com o Padre Marcelo, o governo ainda questionou a sobre a possibilidade de a Igreja realizar o conserto dos cenários, o que foi prontamente descartado, devido à proximidade com o feriado e falta de pessoal capacitado.
– Eles me disseram que não tinham pessoal para recuperar, e eu avisei que não tínhamos mais tempo hábil para se fazer os cenários. Uma coisa é você começar a se preparar com quatro ou cinco meses de antecedência, outra coisa é ter menos de um mês para isso. A resposta deles foi muito em cima do laço – disse.
Em nota, a Prefeitura de Cabo Frio informou que desde que o processo sobre o Auto da Paixão de Cristo foi protocolado pela Igreja, através da Arquidiocese de Niterói , “a Superintendência de Eventos da Secretaria de Turismo atendeu a todos os pedidos de estrutura feitos pela Paróquia, inclusive os palcos e equipamentos de iluminação para a encenação”. Porém, em relação aos cenários utilizados na encenação, encontrados com avarias, a nota afirma que a responsabilidade da atual condição dos mesmos é da gestão de Marquinho Mendes, a última realizar o espetáculo. “Os cenários para a encenação foram indevidamente armazenados na Morada do Samba após o último espetáculo, realizado ainda na gestão municipal anterior, deixando-os danificados. Pela impossibilidade legal da Superintendência de Eventos de refazer o cenário, a Paróquia entendeu que não haveria condições de realizar o espetáculo”, diz a nota.
Entretanto, a nota enviada não esclarece porque a prefeitura demorou a responder à Igreja. O padre Marcelo citou, inclusive, que a paróquia já havia começado os preparativos de todos os ritos religio- sos, incluindo a Via Sacra, em dezembro, com a realização de reuniões preparatórias e ensaios, e que o elenco da peça já estava praticamente formado para este ano.
– É uma escolha pessoal, gosto de começar tudo com muita antecedência. É uma pena, eu lamento, mas é algo que foge á minha alçada. Nós já tínhamos elenco todo praticamente pré-definido, pois temos muita procura de pessoas querendo participar – declarou.
Com a certeza de mais um ano sem a encenação da Via Sacra em Cabo Frio, o padre Marcelo ressaltou que a Paróquia de Nossa Senhora da Assunção realizará diversas atividades por conta do feriado, mas lamentou o cancelamento do espetáculo devido a sua importância principalmente para a população de Cabo Frio e os diversos setores do comércio e turismo da cidade.
– Eu sei que para a cidade a encenação é muito importante, para o comércio é importante, para o turismo, hotéis, então eu sem- pre penso nisso. A igreja colabora com a cidade e a cidade com a paróquia. O resultado final é o bem da nossa cidade. O sentimento é de lamento, pois sabemos que é bonito, é algo que traz uma multidão para a nossa cidade. Então saber que não vai ter de novo, é uma pena – declarou.
Histórico de cancelamentos tem virado rotina
A encenação da Paixão de Cristo em Cabo Frio é um dos eventos mais tradicionais da cidade. Porém seu cancelamento têm se tornado frequente nos últimos anos. O evento litúrgico foi performado pela primeira vez em 1988, e para a alegria dos fiéis da cidade e dos turistas que visitam Cabo Frio no feriado da Semana Santa, permaneceu sendo encenado no Largo Santo Antônio durante 27 anos em sequência. Entretanto, em 2016 a produção foi cancelada pela primeira vez pela Prefeitura de Cabo Frio, que alegou o alto custo do evento para tomar a decisão. Em 2017, a peça ao ar livre foi encenada, mas no ano passado o evento foi cancelado novamente, com a Prefeitura Municipal dando a mesma justificativa de dois anos antes.