'Foram torturas pesadas

'Foram torturas pesadas, cruéis', diz promotora sobre prisão de policiais militares em Cabo Frio

Segundo denúncia, PMs fizeram agressões para se apropriar do dinheiro de um roubo

13 MAR 2019 • POR • 11h05

Sete policiais militares foram presos, dois estão foragidos e um foi afastado de suas funções durante a Operação Ali Babá II, realizada pelo Ministério Público Estadual (MPRJ) e pela Corregedoria da Polícia Militar ontem em Cabo Frio.

Eles são acusados de terem torturado pessoas ligadas ao assalto de um veículo que transportava R$ 6 milhões na Via Lagos em 2014, quando um PM que fazia a segurança do dinheiro foi morto.

O objetivo da tortura, segundo a promotora de Justiça responsável pela investigação, seria que os policiais se apropriassem do dinheiro roubado e dividido pela quadrilha, cerca de R$ 4 milhões.

- A tortura ocorreu alguns dias depois do latrocínio na Via Lagos. Esses policiais tinham informações de quem estava envolvido na prática do latrocínio. Daí eles procuraram essas pessoas que estavam foragidas e procuraram torturar essas pessoas para a obtenção, não só de dados sobre crime, mas principalmente de recuperar o dinheiro que foi repartido naquela organização criminosa com o objetivo de se apropriar desse dinheiro - disse a promotora Tatiana Kaziris, titular da Promotoria Criminal de São Pedro da Aldeia e membro do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO/MPRJ).

De acordo com a denúncia, um dos réus da Operação Ali Babá I, que investigava o latrocínio, decidiu colaborar com a Justiça em outubro de 2016 e ofereceu detalhes sobre a ação feita pelo grupo criminoso na Via Lagos no dia 3 de julho de 2014. Na sequência ele falou sobre a ação dos policiais, que teria ocorrido no 7 de julho, e que até então era desconhecida.

- De fato, uma operação como essa, com 9 mandados de prisão contra policiais, não é comum aqui na região. Normalmente as denúncias deste tipo são mais pontuais. Mas essa tortura não foi uma tortura que você às vezes toma conhecimento de um policial ter mais rigor e lançar mão de violência física para tentar, em uma prisão em flagrante verdadeira, real, que ele tenha mais informações. O que também é combatido. Mas é combatido pontualmente, manda-se pra auditoria militar. Nesse caso eles se organizaram para ter informações para a recuperação desse dinheiro para si, e no final de tudo apresentaram essas pessoas na delegacia como se tivessem sido presas em flagrante por esse fato e por outros. Foram torturas pesadas, cruéis, envolvendo até criança. Então eles praticaram essas torturas fardados, com viaturas, à luz do dia, e no final, depois de isso tudo, ainda tiveram a ousadia de apresentar na delegacia como se fosse um flagrante comum - contou a promotora.

Ainda de acordo com Tatiana, aos depoimentos prestados por diversas testemunhas somaram-se elementos comprobatórios como informações das antenas de telefones celulares, que, conforme consta no processo, indicam que os policiais estavam, de fato, nos locais e horários apontados pelas pessoas que prestaram depoimentos.

A partir destes depoimentos, em 11 de dezembro de 2018, o juízo da 2ª Vara da Comarca de São Pedro da Aldeia expediu os mandados de prisão preventiva contra nove policiais denunciados: Paulo Henrique de Oliveira Ferreira; Leandro Luiz da Silva; Rubens José Loureiro Ferreira; José Carrilho Rosa; Marcio da Silveira Marques; Robert de Souza Costa; Celio Gomes de Oliveira; Marcos Ribeiro Laranjeira; Reynaldo Robério Ramalho Cardoso; além de ter determinado o afastamento de Helio de Cassio Souza Manhães da função de oficial da PMERJ.

A primeira Operação Ali Babá foi realizada em 19 de fevereiro de 2016, em Cabo Frio e cidades da Baixa Fluminense. A ação cumpriu mandados de busca e apreensão contra acusados de roubo, receptação e desmanche de carros, crimes igualmente cometidos mediante graves ameaças e uso de armas de fogo.

Mais de dez pessoas foram condenadas pelos crimes. O réu que fez a colaboração com a Justiça pegou mais de 20 anos de prisão, mesmo com benefícios concedidos em troca de informações privilegiadas.

O latrocínio na Via Lagos em 2014 foi cinematográfico. Dois policiais militares transportavam R$ 6 milhões em um Corolla blindado, e não em um carro forte. O veículo em que eles estavam foi abordado por dois carros e muitos tiros foram disparados. O cabo Valério Albuquerque, que estava no volante, morreu na hora. O policial que estava no banco do carona não foi atingido e conseguiu sobreviver.

O dinheiro que estava no porta malas do carro, R$ 4 milhões, foi levado pelos criminosos. Outros R$ 2 milhões que estavam no banco de trás do carro foram deixados no local. Três funcionários da empresa de valores responsável pelo transporte do dinheiro foram denunciados posteriormente por falso testemunho. A promotoria acredita que houve colaboração de pessoas de dentro da empresa para a realização do crime.

Os policiais presos nesta terça foram levados para a 126ª DP (Cabo Frio). Posteriormente fizeram exame de corpo de delito e foram levados para o Batalhão Prisional da PM, em Niterói, onde ficarão presos por tempo indeterminado.