Romário

A política tem me feito muito bem, afirma Romário em entrevista exclusiva

Deputado criticou duramente a Copa do Mundo no Brasil

29 ABR 2014 • POR Gabriel Tinoco • 21h37

Atualmente exercendo mandato de deputado federal pelo Rio de Janeiro, Romário de Souza Faria escreveu seu nome na história do esporte brasileiro há 20 anos. Em 1994, o então craque se tornou o grande responsável pela campanha do tetracampeonato mundial da Seleção Brasileira de futebol, e ainda foi eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa. Curiosamente, é a entidade máxima do futebol mundial que mais sofre atualmente com as novas investidas do Baixinho. O ex-centroavante abandonou os gramados em 2008 e se candidatou ao primeiro cargo político dois anos depois pelo PSB.

Mesmo fora dos gramados, a habilidade para atormentar os adversários e inflamar a torcida (agora os eleitores) parece em dia. Romário se transformou em um dos grandes críticos em relação aos gastos na preparação para a Copa do Mundo no Brasil, este ano. Em entrevista exclusiva ao site do jornal Folha dos Lagos,  o Baixinho não se escondeu: lamentou a influência que a instituição exerceu no país, "tudo pelo sonho de sediar uma Copa do Mundo", como definiu, e aproveitou para fazer um alerta à outras nações em desenvolvimento.

O senhor disse em uma entrevista que a Fifa era 'um estado dentro do Brasil'. O que acha da influência da entidade no país?

Este é um modelo particular de negócios da Fifa. A entidade chega nos países, impõe alteração nas leis, traz os seus parceiros comerciais, lucra muito, não investe nada no país e vai embora. É lamentável que países em desenvolvimento, como o nosso, aceitem isso apenas pelo sonho de sediar uma Copa. Espero que a experiência do Brasil seja um alerta para o mundo. Os países não devem aceitar as extravagâncias da Fifa.

Como avalia a construção das novas arenas em estados que não têm a cultura do futebol tão fortalecida?

Este vai ser um problema difícil para algumas cidades superarem. Porque sem uma ótima administração, que faça daquele espaço um lugar que gere lucro e benefícios sociais, as arenas serão um poço de prejuízo. O custo de manutenção desses estádios é altíssimo e esse investimento precisa ter retorno social. Os governos não podem continuar tratando o dinheiro público como se ele não tivesse fim, suportando qualquer tipo de desperdício.

O preço dos ingressos foram bastante criticados pelo senhor. A Copa do Mundo no Brasil não será para o brasileiro?

Se quem tem boa condição financeira teve dificuldade para comprar, o que dizer do pobre. Só se comprava com cartão de crédito, e só isso já excluiu uma grande parcela da população. Depois prometeram o ingresso mais barato da história das Copas, o que, obviamente, não foi cumprido. As classes C, D e E ficarão bem longe dos estádios, com certeza.

É a favor da ação dos 'Black Blocs'?

Sou a favor de manifestações pacíficas.

Concorda com a aprovação da 'Lei Antiterrorismo' para a Copa do Mundo?

Não acho que tenhamos hoje no Brasil nada que possamos chamar de terrorismo, a exemplo do que vemos em outros países. Com a proximidade da Copa e das Olimpíadas, as manifestações e a trágica morte do cinegrafista Santiago Andrade, há um certo nervosismo com este assunto e uma pressa em aprovar a lei. O projeto ainda está no Senado, quando chegar na Câmara vou poder analisar com mais propriedade. Porém considero que o Brasil tem leis suficientes para enquadrar os crimes que porventura acontecerem nas manifestações.

O senhor apresentou essa semana na Câmara um projeto de Democracia Digital no Parlamento. Como ele funciona?

Coloquei todos os meus projetos para serem avaliados pela população em forma de enquete. As pessoas votam se apoiam ou não e podem classificar se o projeto é relevante, irrelevante, urgente e, até, sem noção. Aqueles que tiverem alta rejeição, quando mais de 51% das pessoas forem contra, eu vou arquivar o projeto. Quero evitar que projetos de baixo interesse popular fiquem tramitando na Câmara atrasando a votação de outros importantes.

Como seus projetos estão avaliados hoje?

A maioria dos meus projetos tem altíssima aprovação, como o que facilita a importação de material para pesquisa científica, com 97% de aprovação popular, e o que torna crime divulgar fotos ou vídeos com cena de nudez ou ato sexual sem autorização da vítima, com 91% de aprovação. Apenas o projeto que regulamenta as profissões do hip hop tem enfrentado rejeição. A palavra final agora é do movimento, eles podem votar e dizer se querem que o projeto tramite ou não.

Como evitar o uso de robôs ou lobbies de grupos para pressionar a retirada de determinados projetos?

A votação é feita pelo site Vote na Web, uma iniciativa já consolidada. Você só pode votar por perfil do Facebook ou cadastro com CPF. Mas a grande questão é fazer a população ficar atenta aos projetos que tramitam, opinar, sugerir. Por isso quero que a Câmara oficialize no seu site uma proposta parecida. Se já podemos fazer declaração de imposto de renda de forma virtual, como não conseguiremos fazer uma votação dessas?

Já escolheu a que cargo vai se candidatar este ano? Vai tentar a reeleição para deputado?

Hoje eu sou pré-candidato ao Senado. A avaliação do meu mandato é muito positiva e as pessoas têm pedido para eu ocupar cargos de maior alcance.

Então pensa em continuar na política...

A política tem me feito muito bem e estou fazendo de tudo para ajudar o Brasil, então, vou continuar sim.