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Hora do 'mea culpa': lideranças da esquerda fazem análise da derrota

Triunfo conservador gera reflexões no campo progressista

30 outubro 2018 - 10h42
Hora do 'mea culpa': lideranças da esquerda fazem análise da derrota

RODRIGO BRANCO

A avassaladora vitória dos candidatos conservadores ao Governo do Estado, Wilson Witzel (PSC), e à Presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL), levaram a esquerda para o divã. Particularmente na Região dos Lagos, a supremacia da direita, com índices de votos válidos acima dos 75%, obriga os partidos do campo progressista a juntar os cacos e fazer uma análise dos resultados, já de olho nas eleições municipais de 2020.

A reportagem ouviu líderes partidários da esquerda na região e, entre os políticos, além do desejo de que o presidente eleito não cumpra a promessa de campanha de perseguir opositores e acabar com direitos de minorias, há a reclamação pela excessiva disseminação de ‘fake news’. De outro lado, troca de acusação sobre o fato de a construção de uma frente ampla de esquerda não ter se tornado realidade, nem no primeiro, nem no segundo turno.

O ex-vice prefeito de Arraial do Cabo Reginaldo Mendes (foto) reconhece que o PT afastou-se das bases que ajudaram-no a se fortalecer, como sindicatos e movimentos estudantis. Contudo, ele afirma que o partido fez certo ao não abrir mão da disputa presidencial.

– Autocrítica é importante para todos os partidos e grupos. A gente sempre teve um capital eleitoral de 30 milhões de votos. Tentamos fazer composição com o PDT de vice, mas o Ciro (Gomes) não quis. O resultado mostrou que não estávamos equivocados e fomos para o segundo turno. É um patrimônio político que ninguém abriria mão – comenta Reginaldo.

O presidente interino do PT de Cabo Frio, Ricardo Santos, está pessimista quanto ao pleito municipal, daqui a dois anos. Apesar de reconhecer o afastamento do partido das suas origens e considerar “a região como conservadora”, Ricardo também admite que o partido tem seus problemas internos.

– Estamos reestruturando o partido desde a saída do (então vereador) Eduardo Kita. Temos quadros novos e vamos ter candidaturas a vereador e a prefeito de Cabo Frio – disse Ricardo, que deixou escapar o desapontamento com o fato de Ciro Gomes não apoiar formalmente a candidatura de Fernando Haddad.

– Tirando algumas figuras, o PDT não deu o apoio que tinha que dar – conclui.

Na legenda fundada por Leonel Brizola, o sentimento crítico é recíproco. Segundo José Bonifácio, que é da Executiva Estadual do partido, o PT deveria ter desistido da candidatura após 16 anos no poder e muito desgaste perante à opinião pública. 

– Ao invés de acusar Ciro e o PDT, faltou a Lula a grandeza de estadista para abrir mão de ser chefe de partido político para ter acesso ao poder – disse Bonifácio.

Sobre o cenário local, Bonifácio, que concorreu ao Senado este ano, não mostra preocupação para as próximas eleições.

– Cada partido vai fazer sua avaliação. Cada município tem sua realidade própria. Não temos na região grandes representantes que se identifiquem com o Bolsonaro. A vitória dele não é precisamente a vitória de figuras ligadas a ele ou a ideologia do seu partido – comentou. 

Outra força da esquerda, o PSOL também já faz as suas análises. Para o presidente da Executiva de Cabo Frio, Lucas Muller, o resultado acanhado na região não tem relação com a atuação dos partidos de esquerda locais.  

– É algo muito maior, pouco desse resultado tem a ver com realmente partidos de ‘esquerda’, principalmente na Região dos Lagos. Esse resultado tem a ver com uma conjuntura estadual-nacional. Quem é Witzel? Um desconhecido puxado pelos votos do Bolsonaro. Só isso, ele não é nada além disso. Pontue a máfia e corrupção do PMDB ao longo de todos esses anos no nosso estado. E a indignação da população direcionada para um lado oculto. Em relação ao Bolsonaro, pegue diariamente a demonização do PT/Lula pela mídia tradicional, a “formação política via meme” em grupos WhatsApp, organização de uma direita ao longo de todos esses anos – analisa.

Muller também defendeu a atuação do partido durante o processo eleitoral. 

– Culpar os partidos de esquerda da Região dos Lagos não seria legal porque a gente não tem esse poder. O PSOL é um dos menores partidos da cidade, mas é o mais organizado – defende.

Já para Leandro Cunha, que concorreu à Prefeitura este ano pelo partido, a eleição foi ‘atípica’ pela falta de debates e pela veiculação de notícias falsas. Leandro disse ainda que o partido manteve o seu espaço na oposição e também viu influência do antipetismo na derrota da esquerda como um todo. 

– Para reagir a isso a esquerda precisa se reconectar, não é o caso do PSOL, mas o petismo precisa fazer sua autocrítica e rever métodos. A esquerda toda não, mas especialmente o PT, de dialogar com as bases trabalhistas, sindicais e principalmente, com as pessoas. O caminho é esclarecimento, informação verdadeira e a reconexão com as bases – avalia.